10 janeiro 2009

Esboço de Vida

27º Capitulo

Aquelas fitas de cinema tão antigas e poéticas. Aquelas valsas tão pequenas e românticas. Tantos elementos têm a vida, a vida por si só é um elemento do mundo.
-Rita, filha, passa-se algo? – era a mãe de dela.
- Apenas a minha vida na sua monotonia habitual – olhou para os olhos da mãe – não te preocupes, problemas desaparecem, as marcas que deixam é que doem.
- Bem, acredita que há muito mais na vida… vim avisar-te que a Margarida está na sala.
- Por favor, diz a ela para vir para o quarto.
- Está bem, querida, ouve-me, o amor é uma ilusão – sorriu para a filha e fechou a porta do quarto de Rita.
Rita sentia-se perdida num enorme deserto, as amigas eram a única água de salvação para a sede.
- Olá – ergueu a cabeça e orçou um sorriso – tudo bem?
- Vim ver-te, queres desabafar – Margarida sempre foi compreensiva.
-Pela primeira vez na vida senti-me verdadeira e adivinha, ele mudou-se, a minha vida está em pico – apetecia-lhe chorar, gritar, bater no destino.
- Precisas seguir em frente, erguer a cabeça e chorar vendo o mundo!
- Não quero amar mais ninguém, não quero tentar ser feliz vivendo uma vida que o destino termina.
-Queres sair ou assim?
- Talvez fosse melhor, mas não quero, tenho de me encontrar primeiro, depois dito as minhas novas regras ao mundo.
-Ríi, querida, eu já amei e sabes como terminou? Ele deixou de gostar de mim e acabou tudo comigo.
- Eu escrevo um diário, preciso de ficar sozinha e chorar com as palavras, percebes?
- Eu não escrevo, eu canto – riu-se – quando estou nestes momentos, é claro que umas lágrimas caem.
- Olha, se não te importas eu preciso… - fez um sinal e Margarida percebeu.
- Só uma coisa, não existem regras para a vida, a vida é apenas um jogo em que cada jogada é feita de cada valor e não de uma regra – saiu sorrindo.
Naqueles momentos que seguiram Rita escreveu e chorou.
“Quero encontrar-me, deixar de fingir que estou feliz quando apetece-me chorar, deixar de tentar ser feliz vivendo outra vida que não a minha.
Troquei a minha vida por ti e tu foste-te. Senti-me tão eu, a única vez na vida, aquela que o destino acabou.
As palavras...
As músicas…
Os filmes…
As vozes…
Os ecos…
Quem sabe os futuros…
A minha vida é tão vida, as letras que não inspiram vidas, mas que são inspiradas nelas. Existiram tão poucos momentos em que pude dizer que não era feliz, mas será que não era ilusão?
Esta angustia que parece não passar nunca, que nem mesmo tempo é o remédio.”
Eram palavras banhadas por lágrimas, ou quem sabe lágrimas banhadas por palavras. Tudo era tão homogéneo, a característica de dor.

Inspiradissímo

I.P.
(Isabel Patrício)

2 comentários:

Bia disse...

Gostei muito e estou ansiosa para ver o que acontece a seguir.

Anónimo disse...

tá montes de fixe