05 maio 2011

Lado a Lado…

Insóniade Bocage
Oh retrato da morte, oh Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que delirar me obriga.
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Insóniade Isabel Patrício
Quando vens, acaba-se o sofrimento
infligido pela cruel claridade,
pelo sopro da idade.
Encontro descanso, finalmente!
Manda-me o “eu” vaguear
noite fora, gritando a dor
que estrangula o sabor
do ser que sou ao levantar.
E vós, oh criaturas superiores,
sonhos, pesadelos, sufocações,
enchem-me de poderosos temores,
que repentinamente me atacam o coração.
E,nesta insónia, felizes são os inferiores;
Livres de toda a escuridão!

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