02 janeiro 2012

O coração da Ave liberta é mudo!

Capítulo IV – Metamorfose real!

A felicidade é uma realidade escassa, inacessível. Abandonar o abrigo infantil, calar o coração é, sempre, abdicar da ilusão de vir a ver perfeito e feliz. Na infância é fácil acreditar que teremos a capacidade de marcar o mundo, de o mudar, irremediavelmente. É enigmático como tudo é tão acessível! Somos, então, as aves mais corajosas, as primeiras com a vontade assertiva de construir e alterar o espaço! Abandonamos, porém, a gaiola linda e abaulada. Trocamos a luz coada pela janela aberta e deliciosa. Somos gananciosos e a criança selvagem com o coração que se exprime torna-se na ave sinistra e calada que sobrevive na caverna e no prado idílico, mas efémero. Não sei onde estou agora! Não sou a criança frenética, nunca o fui, não sou a ave monstruosa, apesar de ter semelhanças. Sou, penso, ainda o estado intermédio da metamorfose brutal da vida. O monstro em mim alimenta, agora, as vontades que, outrora, eram sustentadas pelo sorriso ingénuo. As minhas asas começam a ter mais força, mais vigor, mas não me sinto, ainda, capaz de abandonar a caverna onde me abriguei naquela noite de trovoada. Oh, a humanidade está a esgotar-se! O Homem é a criatura, por vezes, menos humana que existe. É nesta fase da mudança que a generosidade é separada da criatura. De um lado está o Homem carinhoso que tenta a salvação dos pequenos. De outro está a escuridão monstruosa que é sufocada pelos modos rígidos da sociedade. O ser que, brevemente, irá brotar da minha antiga alma é estranho! Uma criatura reprimida com vontades frustráveis. Sim, um ser maduro, pela primeira vez capaz, mas sem capacidade de almejar mais do que o medíocre nada! Contudo, alguns Homens peculiares nunca alcançam este estado. É, claramente, esta a minha esperança: que eu seja um desses tais singulares seres que criam a partir do coração que, apesar de não ser infantil, é afogueado e barrulhento. Parte dessas criaturas monstruosas que se odeiam e amam, que sobem para cair e não para alcançar o topo. Talvez, até, porção de alguma outra criatura que se apaixone pela pacificidade passional e irrequieta da minha alma. A mudança que a natureza opera em todas as pequenas aves falha diversas vezes. Surgem, então, os originais, os erros! O mundo é alterado pela metamorfose, também. O lugar simpático e fascinante torna-se negro e corrompido. Sim, o mundo está tão intensamente negro, porque hoje os monstros ganharam. Os generosos quiseram-os na liderança. Os ingénuos apoiaram. E os estranhos, à margem, sucumbiram e deixaram que a metamorfose agisse como uma noite sem lua. Contudo, existem suficientes vontades para mudar o prado, antes idílico. Não existem é vozes poderosas e capazes de arremessar estes selvagens corrompidos e frígidos. É urgente! Esqueçamos a sociedade, o estado da sociedade! A manhã já aí vem… esperem… a felicidade aguarda-nos, temos de caminhar na sua direção. Porque insistíeis em fugir? Porque a inspiração surge do carpir, do sofrer, do monstro e da escuridão. E a ave calada torna-se, também, surda, cada vez mais pessoal e só!

Inspirado na Vida
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