04 fevereiro 2012

O coração da Ave liberta é mudo!

Capítulo V – Como te amava…

Ao início, a luz que irradiava o meu olhar era plena, transparente e contagiante. O movimento dos meus dedos pela textura macia e transcendente dos fios dos meus cabelos era repleta do aroma divino da simplicidade e infantilidade. O sol não me era nada, além de tudo, do meu engenho perfeito! Ao princípio, eu era só e completa, com meias vontades de crescer e construir, derrubando a tirania. Era eu e a criatura fascinante que vivia dentro de mim.
Quando abandonei o meu lado luminoso, encontrei-te sentado sobre a rocha mais magnifica e esculpida. Parecias Hércules, aos meus olhos… As nuvens que se formavam no horizonte dotavam-te de um mistério irresistível. A criatura intrínseca queria-te muito, fazias dela um ser mais elevado, mais alvo e, simultaneamente, mais mundano. A vontade de ser eterna acalmava-se e recostava-se na confortável e enérgica paixão.
Todos as porções do meu ser eram devotas aos teus olhos primaveris, que me faziam amar o inverno pelo seu intenso contraste com a tua beleza. A ave que se havia liberto para uma vida de aventuras, prendeu-se no simples jeito desalinhado dos teus fios dourados.
O mundo, porém, esse monstro cruel e insaciável, quis o meu coração e rasgou-o. Todo o ar que nos unia ardeu, enquanto a besta me retirava o sentimento. Nesse dia, a ave liberta e presa transformou-se no animal solto, frio e incapaz, quase sem faculdades para sorrir e enfrentar o mundo. A criaturinha cheia troçou de mim, mas eu ignorei-a. Afinal, o que nos distingue não é o talento, é a forma como enfrentamos essas provações ridículas que nos fazem soluçar compulsoriamente.
No início tudo era brilhante e atrativo, mas a tua força gravitacional foi letal para mim e, se um dia me pareceste um herói inalcançável, hoje tomas as proporções do mesmo monstro mundano que terminou com a minha capacidade de olhar, pois o ser em ti que me venerava quebrou-se no exato momento em que poisaste os teus finos e descalços pés na superfície humana do vale das aves libertas. Foste o «Anjo caído» pecador a quem eu, simplesmente, cedi pela idílica paisagem que formavas.
A criatura, todavia, que se fez acompanhante do anjo perdido tomou como lição a dor e vedou o engenho perfeito aos olhos gélidos e glaciares que procura e se assemelham à sempre ansiada perfeição.

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