Capítulo VI – A dormência.
Os olhos tão translúcidos escondem os verdadeiros pecados da criatura que habita no prado idílico. O olhar puro é a mais antiga artimanha: faz sucumbir os inimigos e ata-os à crueldade trazida na doçura. O ar estava húmido e incapaz, emaranhando as penas alvas da pequena avezinha poisada na pálida flor vermelha. Uma papoila que derramava lividez… O céu estava esplendidamente alvo, quase branco. O mar parecia prata desbotada e consumida pela terra ambiciosa coberta de um manto resplandecente de natureza. Zéfiro passeava junto das folhinhas e derrubava o equilíbrio perfeito. O amanhecer parecia o crepúsculo fantástico de uma dia morno e odioso. Um daqueles finais perfeitos para uma história que nenhuma alma dota de atenção.
O primeiro raio solar fez a ave abandonar o repouso. O mundo está repleto de pequenos detalhes deliciosos, tão romanticamente realistas, que nos escapam na urgência de construir e conseguir. Contudo, se a visão objetiva for trocada pela vontade imensa e individual de olhar o mundo, a realidade torna-se pequena e diminuta. O olhar subjetivo reflete a alma do observador. E, após a falha ao mudar o mundo e o desgosto com o herói romântico, a dimensão insuportável da criatura reduz, drasticamente, o espaço.
O mesmo ser que queria erguer um novo mundo está, agora, dormente. A sua condição de observador deleita-o, sendo o veneno mais letal e perigoso e consumindo a vontade de oscular qualquer porção da realidade com a inovação.
E a ave liberta que se mostra satisfeita revela-se pouco peculiar na procura de um propósito. A dormência é, contudo, provisória e aguarda o incêndio da paixão madura pelo mundo.Inspirado na vida,
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