Do nada se esfumam as andorinhas; do nada se esvai a véspera; e ficamos nós, imortais e desumanos, olhando o futuro, animicamente.
Ontem, que é feito de ti? Que te fizeram dias intermináveis, distância intransponível? Que força corrompeu a minha ingenuidade, a minha vontade?
Olho o céu, é manhã. Nasce o sol, nascem as primeiras pétalas, que enroladas estavam sob o manto celeste. Olho o céu, é noite. Que foi feito do tempo?
Acelera-se a vida já monótona e parece-me que as vinte e quatro horas se tornam intermináveis e passageiras. É como flutuar num rio que não se move, mas descai para a foz. Que é feito de mim?
Fito-me e anseio pela criança, pela jovem, pela mesma pessoa de ontem. Grito e, mesmo assim, este vil espelho que é o dia seguinte mostra-me deformada e adulta: só!
Que é feito de mim? Dos dias de concentração sem propósito, da boa margem para o desperdício? Caminho a passos largos para a velhice…
Começa, agora, a agitação. Estou frenética à beira abismo e temo o próximo passo. Serei já capaz? Estarão fortes as minhas asas? Que é feito de ti, mulher?
Onde estão os teus olhos transparentes e o teu sorriso invisível? Que força é esta que te domina, que te impele para a última semana da tua infância?
Ouço, finalmente, o barulho estrondoso do comboio que se aproxima. Entro nele e, no momento em que começa a andar, sinto cada fio que me liga à felicidade a dissolver-se. E acaba, irremediavelmente, a minha estada aqui, neste mundo pequeno e idílico que era eu.
Oh que Utopia a minha de vingar numa vida vã e insensível. Quimera tola capaz de mascarar a ação vaga do tempo e de o enfatizar no momento da mudança: veneno que reforça o corte, que inflama a ferida e a torna incurável!
30 maio 2013
O vento depois da véspera…
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