Sobrevoo a vida e admiro-me por ser tão mais bonita ao pôr do sol do que ao nascer. Quando a imaturidade nos conduz aos atos mais precipitados e inconscientes é, simultâneamente, terrível e preciosa. A genialidade de um qualquer criador é soberba! Ser diferente é tão brutal, mas magnífico. Se ao fitarmos a tela virmos apenas o que todos os outros vêm, somos comuns! Porém, se ao olharmos o quadro nos emocionamos, somos sábios o suficiente para compreender que a expressão é sempre única e pessoal. Ser comum é perfeito, na verdade! Todo o Homem é corriqueiro, em certos pontos. Não adianta discordarmos que somos apenas um retalho da enorme peça que é a criação. Somos uma linha, se bem virmos. Contudo, somos, na nossa pequenez, os mais capazes de destruir todo o mundo e de o mudar, completamente. Somos heróis fracos, sem capas ou artifícios. A semelhança deve ser, por isso, tão louvada como a peculiaridade. Afinal, somos todos parecidos, não na anatomia, não no génio, mas no mecanismo que nos faz mover e avançar. Há quase quatro anos que nasceu o MI. A sua existência foi muitas vezes dormente e incapaz. Foi, por vezes, especial. Foi, sobretudo, essencial para o meu desenvolvimento. Antes receava perante a estrada longa e sinuosa que me prometiam, mas que eu sabia ser demasiado tortuosa para os meus delicados pés. Hoje, conheço a minha verdadeira natureza e, apesar de não ter atingido a perfeição tão desejada, sei que as capacidades foram ginasticadas, limadas e cultivadas. O Esboço de Vida foi o primeiro grande passo para esta ascensão. Podem olhá-lo e chamá-lo medíocre. Eu sei que não o é, porque é fruto da mais pura vontade e do mais profundo desgosto e emoção. É o primeiro sinal de que a chama que em mim ardia, apesar de comum, era capaz de mais do que nada! Sinto-me orgulhosa por todos os erros ortográficos, por todos os gritos e por todos os terríveis posts que ousei publicar. Eu, Isabel Patrício, não sou construção sólida erguida sobre essas quedas. Sou, pelo contrário, a criatura que os ostenta, na esperança de a inspirarem para mais quatro ou para mais quarenta anos de Mensagem de Isa. O crepúsculo ainda vai longe, mas já não sou tão precoce que, pelo menos, não o admire.
