01 novembro 2008

Esboço de Vida

13º Capitulo


Hoje falta-me a inspiração que sempre fez de mim quem sou. O tempo passa e deixa-me igual, deixando-me sem resposta nem pergunta, sem sorriso nem lágrima, deixando simplesmente a voar por entre vidas, tão semelhantes a nada.
Os olhos que me fizeram viver de novo o dia, continuam dando-me certezas. É certo que isto me bastava, mas agora as respostas que o coração pede são respostas em que se ouve um som, um som a que chamamos fala.
Estes sorrisos que me atraíram em função de um nada, de um nada tão incerto como o futuro que muda a cada instante. Invejo o nada, por ele próprio ser a ausência de mim, por ser a ausência de qualquer duvida ou qualquer dor.
Talvez seja egoísmo meu, mas cada minuto passado torna-se mais belo por ser recordação. Foi bem vivido, bem vivido comigo, teve certezas que fizeram dele realmente especial.
Agora, fico parada e olho em redor, vejo o mundo viver, normalmente, cada dia. Cada dia como antes, cada dia com novas esperanças, mas depois olho para mim e encontro-me da mesma forma que estava ontem.
Sinto tanta falta da incerteza do futuro, mas este futuro fez com que parasse á sua espera. Mas ele vem e continua vivendo comigo igual a nada. Voando por entre vidas tão semelhantes a nada, sorrindo tantos sorrisos tão semelhantes a rostos sem expressão.
Fico sem expressão e limito-me a viver e descrever a leitura dos olhos, leio a alegria, as preocupações e as tristezas dos outros. Olhos nos olhos, vida na vida, coisas com tanto significado que agora parei a admira-las.
Foram épocas tão diferentes, meses tão cheios, dias tão felizes, passados tão recordados e no final um presente tão feliz que nem penso no futuro.
Mas acordei a tempo! Levantei-me e sorri, vi que tudo o que estava a viver era só um sonho, um pensamento que agora está longe.
Todas as respostas foram encontradas, e novas perguntas surgiram. Muitas lágrimas foram derramadas e logo novos sorrisos cresceram.
A inspiração voltou e de novo cresci em mim, tal e qual como era. Com os olhos a brilharem de dor ou de felicidade, com os lábios sempre a tomarem expressões incontroláveis.
Este início de um novo começo que é o fim do sonho, o fim do pensamento que me prendeu.
Agora sou mistura do calmo e do rebelde, do nada e do tudo, da palavra e do olhar, de coisas tão diferentes que me tornam irreal, tornam-me simplesmente eu.
A mistura da cor e da escuridão, da lágrima e do sorriso, do fim e do começo e de tantas outras coisas amadas por mim, que a diferença faz com que recorde tudo o que vivi sem esquecer o presente.
Este presente agora já fez parte de um sonho, um sonho em que desejava ser libertada e voltar a mim. Voltar a ser quem era, a mesma pessoa que sorri porque simplesmente sente a magia no ar. Que chora porque está apertada. Que é acima de tudo quem é!
Não escolho novos caminhos, apenas deixo-me levar pela vida, pelo destino, que tantos dizem não existir. Continuo lutando pelo o que amo, continuo vivendo de tantas formas e tão poucas, contínuo retratando-me como algo que fará o que sonha porque luta por isso.
Sonhar é a única coisa capaz de fazer sorrir quando o futuro desaba aos nossos olhos. Mesmo que este sonho seja conduzido pelo sorriso ou pelo olhar, simplesmente vive o momento e corre pela vida.


Inspirado na Vida

I.P.
(Isabel Patricio)

1 comentário:

Bia disse...

Sabes, todos os capítulos estão tão giros, especialmente estes últimos, que cada vez gosto mais. Não posso dizer que nenhum é o meu preferido pois sempre que leio um novo fico apaixonada por ele. A leitura do Esboço de Vida faz com que fiquemos presos da primeira à última palavra. Se isto não vos acontece é porque não lêem como deve ser.