30 janeiro 2011

Derramação

Estamos no cimo da identidade falsa, da corrida eterna, do falhanço proeminente. Estamos a correr em direcção à baía sinuosa, em direcção ao mar prateado, e pelo meio caímos, tropeçamos nos nossos próprios pés.
De noite, há apenas um enorme buraco de água escura e monstruosa, de manhã há um enorme buraco de tinta azul prata, de dia há o azul sereno, ao anoitecer não há nada! Secam-se todos os desejos de riqueza, calmaria ou sonho, secam-se as vontades, e assim seca-se o mar e tudo o que ele representa.
Estava Leonor indo para a fonte,"vai direita, e não segura", confundida nos seus próprios pés descalços sobre a verde relva, banhada pelas suas mil saias encarnadas como sangue, sedutoramente envergonhando o Sol. Estava Leonor, escondendo o seu semblante marioso, estava mas já não está, porque a inveja a corroeu de tal forma que se dissolveu na própria garganta destapada!
A sedução de poucos sinais desfaz a grande imaginação de não querer atrair. Sentar é levantar do chão os poucos paus que fazem uma cadeira.

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