É impressionante como o tempo passa sem deixar rasto nas nossas vidas, quando somos tão novos que quase tudo nos escapa. Sim, à dez anos, em 2001, aquando do dia que mudou o mundo, eu tinha apenas seis anos e, apesar de ter recordações bem vívidas da minha infância, este dia não me é particularmente apelativo. Tenho apenas a vaga impressão de ter ficado chateada pelas emissões televisivas terem sido tomadas por completo, não deixando espaço a outros programas que, evidentemente, eram então mais do meu agrado.A diluída recordação que guardo «mostra-me» saturada de toda aquela publicidade à volta do evento que me parecia totalmente banal, mas mais importante ainda, revela-me saturada de toda a pena e falsa misericórdia pelas vitimas. Sim, falsa, porque, como em todas as ocasiões catastróficas, muito se propõe, desgasta-se a paciência das populações e pouco se faz, deixando-se por fim um povo farto das vitimas e farto de ter pena, seguindo em frente, hipocritamente esquecendo os que, dias antes, tanto lhes preocupavam.
Dez anos após a fatídica manhã e tarde do décimo primeiro dia de Setembro,recordam-se as vítimas, as famílias destruídas, os sonhos esmagados e, principalmente, lembram-se as horas de terror que despoletaram uma mudança sem volta e uma caça ao homem brutal.
Cerca de duzentas pessoas saltaram das torres em chamas, mas muitas mais foram aquelas que morreram, consumidas pelo terrorismo que desde esse dia tem vindo a aumentar incessantemente, deixando um «exemplo» a ser usado por tantos outros conflitos.
Dias atrás, estava a ver um documentário sobre este mesmo evento, e na altura em que o primeiro impacto apareceu, fiquei presa a pensar não naqueles que estavam no prédio a arder, mas naqueles que estavam no avião, esperando chegar ao seu destino. Fiquei capturada num pensamento de terror e agonia, questionando-me sobre os seus últimos pensamentos. Aqueles que «instantaneamente» morreram com a colisão também me despertaram interesse e um certo gostinho amargo na boca. Pessoas normais, num dia de trabalho igual a muitos outros, foram arrebatadas da vida à conta de rivalidades alheias, de certa forma. A América pode ter doado milhões para a recuperação, mas nunca doará o suficiente para remendar os seios familiares rasgados por esta atrocidade.
Hoje, o mundo está dormente, assistindo ao relembrar das histórias do dia onze. De alguma forma, sinto que este tem sido o seu estado desde esse dia, já que «O» evento não mudou o mundo, pelo menos não o alterou assim tão radicalmente, apenas o induziu num coma mórbido de ataques, retaliações e guerras.
Por tudo isto, e porque hoje já não sinto a saturação que sentia uma década atrás, hoje, sou bem capaz de reconhecer a dor daqueles que partiram e a dor dos que ficaram. É necessário honrar aqueles que foram arrancados deste mundo e celebrar a grande dádiva que é a vida.
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