29 julho 2012

O coração da Ave liberta é mudo!

Capítulo VII – A descoberta do outro…

Após a tempestade, é prometida a bonança, que tarda e magoa, inevitavelmente. Na solidão de um fim, não há ombro que suporte todo o negrume da alva alma despedaçada. Um final é sempre esmagador e, por isso, marca o ser de forma tão definitiva que o transforma e produz certa animalidade nele. Com efeito, um ser esmagado é um animal natural e não social, no seu âmago. Afinal, a solidão é o primeiro passo para o esquecimento de todos os modos comunicativos. Mas esqueçam a dor, a dormência posterior e toda a vida que, entretanto, é desperdiçada pelo tempo. Os primeiros gritos são, então, como os primeiros sopros e, portanto, enchem a criatura de vivacidade e força eficaz…
Assim, o ser que antes repousava sobre o rochedo cada vez mais delapidado ergue-se e mostra-se atraente e supremo. A dor é, claramente, a produtora desta nova vida, que é tão mais bonita que a infantil vivência que morria.
É evidente que estes códigos poéticos são difíceis de decifrar, mas quem prefere a simples e corriqueira coloquialidade? Muitas vezes, ouvi que a simplicidade era a mais difícil tarefa a cumprir. Eu aprecio-a e considero-a uma primeira etapa, pois sob a sua magnitude esconde-se o maior tesoiro de todos os tempos.
No prado em que agora vivia, muitos eram os corações mudos e desesperados por uma voz, muitos eram as aves capazes de ouvir, mas poucas eram as relações. Assim, tomando as rédeas das suas novas e capazes asas, a ave liberta seguiu até à criatura mais próxima e viril e, naquele momento, ao pousar os seus olhos inquietos na sua bela alma, apaixonou-se.
A mudez tornou-se ofegante e faladora, a vida corria-lhe nas veias e certa tristeza assombrava esta vivacidade nova. A ave esperava por um olha recíproco e, mesmo vendo-o, duvidava do seu poder…
Com efeito, o primeiro amor após o fim do grande conto de fadas, ou melhor após o abandono do reino infantil, é o mais confuso, extremo, massivo e consumidor. É gigante a vontade de gritar e, mesmo assim, o passado cala-a… É paradoxal a vida e todas as suas etapas.

Inspirado na Vida,

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