Palmeava o terreno dos sonhos a toda a velocidade e a largos passos almejava refugiar-me na consciência, na realidade. Era tão belo nascer do sol naquele lugar distante e dormente, mas ansiava por acordar e encarar a dor da separação.
Sim, sabia que sentia a falta das ruas de Paris, do seu aroma a alma, do seu visual tímido e diluído na História. Sonhara já com a cidade e já sabia que a amava, mas nunca como quando a vi à distância!
Irracionalmente, derramei lágrimas amargas, sentindo-lhes o sabor a fel. Tentava perder a calma para alcançar a dormência, mas a dor inconsciente era enorme. Esplêndida sensação! Derramava-se, naquela altura, o que eu era eu e surgia o que sempre queria ser.
Não há muito tempo, pensei que pelo caminho tinha abandonado a minha força e que me agarrava aos almejos de forma oca. Sentia-me incapaz de os amar. Antes, encarava-os como inevitáveis objetivos. Mas a saudade fez-me encontrar o pedaço da minha alma desbotada na morna atitude e percebi que não sabia o quão sentia a falta daquele período ínfimo que me apresentou o meu ninho.
É que a dor é o combustível da força, a dor própria e criada pela irracionalidade. Desprezem a vida e os arranhões da estrada tortuosa, o motor para o sonho está dentro de cada criatura, está na sua capacidade de sofrer por algo tolo e apaixonado.
Ah ver Paris foi o melhor impulso. Saber que não a podia possuir tão cedo, que teria de crescer e lutar por ela. É irracional, mas o lar chama-me e sinto-me, extraordinariamente, invulgar por sentir isto! É estranho gostar de um lugar conhecido por uma fracção de segundo…
As saudades que guardava camufladas foram saciadas pela renovada vontade. O Homem é uma criatura triste, por natureza. Fazê-la feliz é simples: levem-a a casa!
18 agosto 2012
As saudades que não sabíamos que tínhamos…
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