Numa época em que tudo se contesta, tudo se contrapõe e manifesta, em mim só se desperta o desejo de fechar os olhos e ignorar o cúmulo a que chegamos.
Pois bem, se há semanas se discutem as novas medidas de austeridade que, como não poderia deixar de ser, geraram as mais incríveis multidões, é, realmente, verdade que os sentimentos que as movem são no seu âmago contraditórios!
Ora “pelo futuro dos meus filhos” – frase repetida vezes sem conta e, no entanto, diluída no movimento, certo? É que se se pretende um futuro mais promissor – ou pelo menos, possível – para as futuras gerações, o primeiro passo será, definitivamente, equilibrar as contas públicas, dissolver os milhões (biliões, na verdade) de encargos, crescer! Esse passo mais brilhante será, portanto, proveniente do esforço dos portugueses, obviamente…
Discutindo um outro assunto, lembre-se que o rendimento social de inserção é insuficiente para muitas famílias. É verdade, sim… ou pelo menos é adequado para uma realidade geral. Todavia, o que geralmente é visível aqui nos Açores - e acredito em muitos outros sítios do país - é uma total desadequação entre a potencialidade de uma família e o que esta recebe, isto é, a mim basta-me descer a rua para assistir ao desfile dos meus impostos. Cansada de olhar para cartazes em que o primeiro-ministro figura como o maior ladrão, a mim apraz-me dizer que os delinquentes que consomem os escalões escolares e nada pretendem da escola não são menos culpados. Se uma turma é uma grande despesa para o Estado e, por isso, empilham-se alunos e alunos, vamos reduzir a quantidade de desperdício de recursos e vocacionar aqueles que nada almejam para a sua vida a não ser, claramente, serem bon vivants para áreas em que sejam úteis e façam valer o investimento.
Sim, parece-me que a raiva tolda-me a capacidade de organizar um discurso, não resistindo a acusar tudo e todos. É, porém, bastante simples a minha «teoria» sobre o estado do país e resume-se em 3 pontos, que poderiam ser alargados a muitos outros campos…
Ponto 1º: Se se protesta, não se produz, estando-se não só a prejudicar o Estado e as empresas, mas também a nós próprios. A greve como meio de mudança, hoje em dia, conduz, somente, ao agravamento da situação. É importante compreender que estes não são tempos de medidas felizes e se nos foi imposta uma «solução», a nós compete suar e pagá-la. Todavia…
Ponto 2º: Se há falta de recursos, como é historicamente conhecido, o caminho mais aconselhável é a sua racionalização! Deste modo, é imperativo, supervisionar todos os caminhos do nosso dinheiro. Esqueçam os alunos que nada querem, os jovens que se perdem e as mulheres que se limitam a gastar o fruto do esforço dos contribuintes. Se em muitos casos é necessária ajuda, concedam-a. Numa época em que a taxa de desemprego atingiu recordes, é preciso dar a mão a quem, involuntariamente, grita por auxílio. Não é esta, contudo, a ocasião para se construírem bairros sociais para substituírem os que já foram consumidos pelas massas. Não é esta a altura de expandir a escolaridade obrigatória, privilegiando a menor aptidão financeira e esquecendo por completo a maior aptidão intelectual. Se procuram justiça, comecem por impor regras quanto à ajuda. Exijam o melhor desempenho na escola, a melhor das condutas e uma organização eficiente dos subsídios. Assim e assim somente se conseguirão erguer jovens responsáveis e capazes, converter acostumados ao conforto em guerreiros e, por fim, ajudar os que precisam, verdadeiramente, já que uma gestão eficaz é, igualmente, mais abrangente!
Ponto 3º: A mim surpreende-me a facilidade de negligenciar o esforço. Primeiramente, oiça o problema. De seguida, oiça a solução proposta. E, finalmente, discorde, se, assim, lhe convier. Faça-o, porém, construtivamente, tendo em mente soluções. Não me refiro à deposição do governo, já que a sua formação teve origem no voto dos portugueses, que, efetivamente, têm o poder de o pressionar. Digo sim, use a sua força para o auxiliar, de certa forma. Uma vez li a seguinte frase «Facebook ou catálogo humano?». Cada vez mais, penso que a segunda opção será a mais correta. A revolta tem sido incitada através das redes sociais. O país está cansado de dispensar os bens necessários à sobrevivência. Sei, muito bem, que os cortes já nos afetam, gravemente. Mas a ferida tende a não coagular e a estrada, ainda, é longa! Com tudo isto, é antes preciso incitar a esperança, produzir, unir a população e esquecer as marcas divisórias que nos separam. Cobrem aos ricos na mesma proporção e não sejam demasiado generosos no conforto… Se é para lutar, lutemos todos e com o mesmo grau de dor.
É que no meio de tudo isto, já se notam sinais de cansaço. Em mim já são evidentes marcas de irritação fruto da constante necessidade de alimentar os ratos do celeiro, que nos veem trabalhar, reservando-se, contudo, ao direito de usufruir do nosso trabalho e consumir, grandemente, os nossos recursos. Os nossos rostos estão feridos na esperança de algum pão. Os deles estão saudáveis e têm um grande banquete à disposição!
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