Despojos
O que há em mim é um imenso interesse pelas histórias...
Há alguns anos atrás percebi que queria escrever para as massas, que as queria acarinhar com enredos inimagináveis, que as queria prender num compromisso com um livro inacabado, mas em mim jazia uma incapadidade tremenda.
Pensava num cenário e nada me surgia. Nem a cor do mar, naquele momento, nem o aspecto do herói após a batalha cruel que enfrentara. Nada! A minha imaginação era um querer sem propósito. Um imenso jogo de barroquices que me condicionava e deixava impotente.
Não, esta não é uma foto de hoje, nem de ontem, mas, sim, daquele período passado em Paris há alguns anos. Foi exatamente esta estada na cidade dos criadores que me transformou!
Estava eu, hoje, a ver televisão, quando, numa série qualquer, alguém começou a falar de um momento que transformara a sua vida... a mim, felizmente, não me ocorreu nenhum à execepção...
Pois bem, desde os primeiros minutos em Paris que algo em mim se modificou. Já não era a sonhadora sem fundo e com um futuro vago; era a sonhadora com uma força mais capaz. Pareceu-me que a própria arquitetura me falava, me ditava cenários, pormenores e personagens.
Depois de uma semana em Casa, as heroínas ganharam tal vivacidade que me assombravam, os lugares perderam a sua insipidez, os enredos formaram-se.
Se é verdade que todos nós temos um lugar a que pertencemos, este é o meu.
Qual é o seu?
Inspirado na vida,
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