Tempo, precisa-se!

A lentidão sempre me confundiu. O raciocínio lento irrita-me, sobretudo, porque reduz a minha eficiência. Sim, a morosidade não é algo que aprecie. O subir de escadas vagaroso enerva-me, profundamente. Afinal, onde terminará o mundo com tanta moleza? Porém, a energia desenfreada e doidivanas é-me, igualmente, terrivelmente estranha. A criança que nunca pára e se faz de irrequieta é tão leve nos atos como nos pensamentos. Pode, evidentemente, ser ágil, ter mais destreza que eu, sim, mas os seus pensamentos serão borrões descuidados e sem foco. A languidez é tão próxima da energia que me arrepia! Antes, podia dar-me ao luxo de aproveitar os poucos momentos de preguiça para realmente deixar a mente descansar. Agora, a mente está entorpecida na urgência de mais fazer e de mais conseguir. Sim, adormecida no próprio propósito de ser mais veloz. O tempo esgota-se tão facilmente que é quase imperativo não parar. Numa noite estamos no final da semana e, impressionantemente, na seguinte estamos à beira  de mais uma. Sim, o tempo foge por entre os dedos, qual areia. É necessário abrandar e acelerar. É difícil viver neste ciclo confuso. O temperamento que ostento é, evidentemente, demasiado preguiçoso para não conseguir resolver a situação. A verdade é que, por vezes, a preguiça acompanhada do frenesim natural do Homem é a melhor companheira. A porção preguiçosa impulsiona a porção frenética, fá-la resolver todas as questões em metade do tempo previamente previsto. A parte preguiçosa triunfa, finalmente, e conquista um pedaço do tempo para exercer a sua função: ser dormente. Contudo, o pedaço afogueada mantem-se no canto escuro da sala e motiva o ser a se levantar e a ser perfeito. Deste modo, se constroem as pessoas estranhas: um pedaço do mais preguiçoso que existe e uma grande porção da maior vontade. A vontade acaba por prevalecer, sempre, mas, sobretudo, há a constante preguiça na perfeição: os atalhos peculiares que contentam o ser e que, em última instância, o fazem intocável e particular. O tempo torna-se uma realidade distorcida, mas bem contada e medida. É, contudo, sempre exigido mais e mais tempo de ambas as partes!