26 setembro 2013

O velho. O novo. O só.

Num tempo em que ninguém é de ninguém, em que nada é para sempre, pouco resta ao românticos.
Lá fora, a impressionante chuva começa a inundar-me os pensamentos e não há mais nada que me monopolize.
Há, no entanto, esta vontade ociosa de agir, de produzir, de reconhecer o outro. Há, efetivamente, uma enorme solidão quase assustadora.
Entre mim e mim mesma um oceano escuro, profundo e intransponível.
Entre mim e mim mesma um mundo inteiro incapaz de me sorrir.
Entre mim e mim mesma nada e tudo!

Num tempo em que tudo é de toda a gente, em que somos todos produtos da criatura do lado, muito fica por dizer.
Há, realmente, uma ânsia mole de ser mais, de ser capaz, de ser pedante e humilde num piscar de olhos. Há, porém, esta confusão, este excesso, esta barroquice que me assombra como nunca.
Entre mim e mim mesma um sonho incapaz de me erguer, de me libertar.
Entre mim e mim mesma este animal furioso, rudioso e sedento.
Entre mim e mesma, absolutamente, nada!

Depois, há estes dias: eu sentada à janela e com pouco mais do que a minha alma a embalar estes pensamentos vãos.
Depois, há aquelas subtilezas de um ser narcisista: o amor a nada que é seu, a tudo o que lhe pertence...

Pergunto-me: farei sentido?

Pelo caminho, lembro-me das chaves que deixei em cima da mesa junto à pilha de livros nunca tocados e que sei de cor.
À chegada, ninguém me descobre, porque estou encerrada nesta câmara secreta incapaz de me fazer notar.
Volto atrás, procuro as chaves, procuro a citação e nada!

Todavia, do meio da completa nebulosidade, vem esta criatura completamente frágil caminhando tão lentamente que me incomoda olhá-la. Sim, eu não gosto de olhar a expectativa.
O ser é belo e horrendo, com os seus braços fortes, os seus olhos tão belos, o seu torço desnudo e uma expressão de paixão e ódio atraente.
A cúpula cede: a chuva parece um infindável rio que nos cai em cima.
Estou, assim, eu à janela, mais uma vez, e o ser ainda à distância...
Impossível chegar aqui!
E, no entanto, oiço o doce toque das suas mãos níveas nos meus ombros que alojam quilos de agasalhos. Chegou!
As chaves?

Num tempo em que os segundos parecem inesgotaveis e uma lebre se esconde, ninguém quer perder um momento.
Há, ainda assim, em mim esta alegria de não existir neste mundo, de me sentir mais uma entre a multidão, de me sentir a incapaz, a inválida.
Entre mim e mim mesma há a ventania que me anestesia a ferida da separação.
Entre mim e mim há cavalos, coelhos e pequenos patos que povoam esta enorme planície em que me transformei.
Entre mim e mim mesma há, somente, um mundo alheio.

Pergunto-me: farei sentido?

Inspirado na vida,
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